Sindicatos ajudam ou atrapalham a performance das empresas? A ciência tem uma resposta surpreendente
Por muito tempo, a presença de sindicatos foi vista por muitos gestores como um obstáculo à performance das empresas. Mas será que essa percepção ainda faz sentido? Um estudo recente publicado no Journal of Applied Psychology (2025) traz dados empíricos que colocam essa ideia em xeque – e mostra que, em muitos casos, sindicatos podem ser aliados estratégicos.
O que são os sistemas de trabalho de alto desempenho?
Você já ouviu falar em High-Performance Work Systems (HPWS)? Trata-se de um conjunto de práticas de gestão de pessoas voltadas para potencializar resultados, como:
- Treinamentos intensivos
- Processos seletivos mais criteriosos
- Remuneração estratégica
- Avaliações de desempenho bem estruturadas
Essas práticas têm ganhado espaço em empresas do mundo todo — e, agora, surge uma pergunta importante: sindicatos ajudam ou atrapalham essas iniciativas?
O caso da Coreia do Sul
Para responder a essa pergunta, pesquisadores analisaram dados de 287 empresas sul-coreanas, coletados ao longo de sete anos (2011–2017). A base incluía entrevistas com gestores e funcionários, além de dados financeiros das empresas. Dois tipos de clima organizacional foram especialmente investigados:
- Clima de cooperação: ambiente de apoio mútuo, trabalho em equipe e senso de coletividade
- Clima de performance: foco em metas, cobrança por resultados e meritocracia
O que os dados revelaram?
Os resultados são reveladores — e até contraintuitivos:
✅ As práticas de HPWS funcionam melhor quando há sindicatos.
Empresas sindicalizadas tiveram até 3,5 vezes mais impacto positivo no clima de cooperação em comparação com aquelas sem sindicato.
✅ Ambientes cooperativos trazem ganhos duplos: melhoram os resultados da empresa e reduzem o estresse e a exaustão emocional dos colaboradores.
⚠️ O clima de performance também melhora os indicadores financeiros, mas pode prejudicar a saúde mental dos funcionários quando há pressão excessiva.
💡 Sindicatos não reduzem a cobrança por resultados, mas ajudam a manter o equilíbrio e proteger os colaboradores de sobrecarga.
O que isso significa para os gestores?
Se você lidera uma equipe ou empresa, vale considerar as seguintes lições práticas:
📌 Veja o sindicato como parceiro, não inimigo. Em vez de resistir à presença sindical, busque construir um relacionamento de confiança e diálogo.
📌 Implemente práticas de gestão com responsabilidade social. Treinamento, remuneração e avaliação são fundamentais — mas também é importante criar um ambiente colaborativo.
📌 Proteja a saúde emocional da sua equipe. Em contextos de alta exigência, o sindicato pode atuar como um “freio de segurança” contra o burnout.
📌 Crie canais de escuta ativa. Comitês mistos, reuniões de consulta e outras formas de governança participativa ajudam a alinhar interesses.
E os limites do estudo?
Como toda pesquisa, esta também tem suas limitações. O estudo foi feito com empresas da Coreia do Sul — um país com forte cultura de coletividade e tradição sindical bem estruturada. Isso significa que os resultados podem não se aplicar diretamente a países como o Brasil, onde a relação empresa-sindicato é bem diferente.
Além disso, por ser um estudo observacional, não é possível afirmar causalidade com 100% de certeza. Ainda assim, os dados oferecem bons insights para quem busca alinhar performance com bem-estar no ambiente de trabalho.
Conclusão
Sindicatos não são necessariamente obstáculos. Com diálogo e boas práticas de gestão, eles podem ser um trunfo poderoso para construir organizações mais fortes, humanas e sustentáveis.
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