A distância física ainda importa no crédito bancário? Um estudo com dados da Noruega
Sobre o que trata este estudo?
Este artigo investiga o impacto causal da distância física entre empresas e agências bancárias nas decisões de concessão de crédito. Os autores analisam se melhorias na infraestrutura de transporte (como novas estradas ou pontes) – que reduzem o tempo de deslocamento entre empresas e bancos – influenciam a formação de novos relacionamentos bancários e alteram as condições dos empréstimos existentes, especialmente as taxas de juros.
O que foi feito na prática?
Os pesquisadores usaram um banco de dados detalhado de todas as empresas norueguesas com empréstimos bancários, abrangendo o período de 2005 a 2014. Eles cruzaram essas informações com mapas históricos da Noruega (via Microsoft MapPoint) para calcular a redução do tempo de deslocamento entre empresas e agências bancárias ao longo dos anos, aproveitando mudanças exógenas na infraestrutura como “experimentos naturais”.
Quais foram os principais achados?
- Novos Relacionamentos Bancários:
- Quando o tempo de deslocamento entre empresa e banco é reduzido, a chance de se formar um novo relacionamento de crédito com aquele banco praticamente dobra.
- Isso indica que os custos de transação (tempo e esforço) ainda são uma barreira relevante para pequenas e médias empresas, mesmo em um mundo cada vez mais digital.
- Taxas de Juros e Poder de Barganha:
- Curiosamente, bancos conseguem aumentar as taxas de juros em relacionamentos já existentes quando ficam mais próximos fisicamente dos seus clientes.
- Isso ocorre porque o banco, ao reduzir seus próprios custos de monitoramento e sabendo que o cliente está mais “preso” a ele por conveniência, consegue capturar uma parte maior do “excedente econômico” gerado.
- Por outro lado, quando a distância com bancos concorrentes diminui, a taxa de juros cai, pois o cliente passa a ter mais alternativas, reduzindo o poder de barganha do banco atual.
- Tecnologia e Fintechs:
- Bancos não tradicionais (como Fintechs) não apresentam mudanças em suas decisões de crédito ou taxas de juros em função da distância. Isso indica que, para esses agentes mais tecnológicos, o fator geográfico é menos relevante.
O que os gestores podem aprender com isso?
- Escolha estratégica de bancos: Empresas podem se beneficiar ao explorar bancos concorrentes que estejam geograficamente mais próximos, pois isso aumenta seu poder de barganha para negociar melhores taxas.
- Cuidado com o conforto geográfico: Proximidade com o banco pode criar uma sensação de conveniência que, paradoxalmente, leva a condições de crédito piores se o banco detectar baixa propensão da empresa a mudar de instituição.
- Atenção às Fintechs: Como elas não se baseiam na lógica da proximidade, podem oferecer condições mais justas em contextos onde os bancos tradicionais ainda impõem “sobretaxas geográficas”.
Limitações e cautelas
- Os resultados são baseados em dados da Noruega, um país com características geográficas e institucionais específicas. Em países com menos infraestrutura ou sistemas bancários menos desenvolvidos, os efeitos podem ser diferentes.
- A medida da taxa de juros usada é uma aproximação baseada no total de juros pagos dividido pelo saldo médio, o que pode introduzir algum ruído.
- Mudanças de infraestrutura podem coincidir com outros fatores não observáveis (como crescimento econômico local), o que requer cautela ao generalizar os achados.
Referência
Herpfer, C., Mjøs, A., & Schmidt, C. (2023). The causal impact of distance on bank lending. Management Science, 69(2), 723-740. (Link)
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