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Gig Economy – O que aconteceria se os autônomos formassem equipes?

Sobre o que trata o artigo

Este estudo, publicado na Management Science (referência ao final do post), explora uma questão central na economia de bicos (gig economy): a falta de identidade organizacional e vínculos sociais entre os trabalhadores. Os autores conduziram um experimento de campo em uma grande plataforma de transporte por aplicativo (semelhante à Uber) na China, com o objetivo de avaliar se formar equipes entre motoristas poderia aumentar engajamento e produtividade.

Métodos

O estudo utilizou um experimento de campo randomizado com 2.343 motoristas de uma grande plataforma de transporte por aplicativo na China. Desses, 1.750 foram alocados em 250 equipes com sete integrantes cada, formadas com base em critérios como idade, cidade natal ou produtividade. As equipes competiram entre si por prêmios em dinheiro, e os pesquisadores acompanharam a produtividade (horas trabalhadas, número de corridas e receita) antes, durante e após a competição, para medir o impacto da identidade de equipe no desempenho.


O que administradores podem extrair do estudo

  1. Times aumentam desempenho individual mesmo em contextos individualistas: Durante o período da competição, motoristas que participaram das equipes trabalharam em média 46 minutos a mais por dia, realizaram 2,4 viagens adicionais e geraram 12% mais receita diária em comparação com os motoristas do grupo controle. Parte desse efeito persistiu nas duas semanas seguintes ao experimento, mesmo sem incentivos financeiros diretos.
  2. Formação estratégica de equipes faz diferença: Equipes formadas com base em similaridade de idade ou cidade natal mostraram melhor desempenho e maior comunicação interna. Isso sugere que critérios de afinidade social podem fortalecer laços e engajamento, inclusive em ambientes virtuais.
  3. Engajamento social pode ser um diferencial competitivo: A construção de identidade de equipe gerou benefícios emocionais (senso de pertencimento, novos amigos) e tangíveis (mais receita). Isso indica que até em atividades flexíveis e descentralizadas, como na gig economy, promover conexões sociais pode elevar o desempenho.

Limitações e cautelas ao aplicar essas recomendações

Apesar dos resultados promissores, o estudo apresenta limitações importantes:

  • Contexto específico: O experimento foi realizado em uma cidade chinesa com motoristas locais. Os resultados podem não se generalizar automaticamente para outras culturas ou tipos de trabalho.
  • Curta duração: A intervenção durou poucos dias. Ainda não se sabe se os efeitos se manteriam no longo prazo sem reforços adicionais.
  • Participantes autoselecionados: Os motoristas que aceitaram participar da competição já eram mais engajados que a média, o que pode ter influenciado os resultados.
  • Incentivo financeiro atrelado ao desempenho: Parte do efeito observado pode ser explicada por competição e premiação, e não apenas pela formação de equipes.

Conclusão

Este estudo é um exemplo poderoso de como elementos sociais e organizacionais, mesmo em trabalhos altamente flexíveis e descentralizados, podem ser utilizados para aumentar o engajamento e a produtividade. Para administradores que lideram equipes remotas, freelancers ou operações baseadas em performance individual, promover um senso de identidade coletiva e competição saudável pode ser uma estratégia eficaz — desde que contextualizada com cuidado.

Referência

Ai, W., Chen, Y., Mei, Q., Ye, J., & Zhang, L. (2023). Putting teams into the gig economy: A field experiment at a ride-sharing platform. Management Science, 69(9), 5336-5353. (Link)

Veja mais em https://scimgr.com

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